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Tolerância ao exercício físico e ritmo nas provas de resistência: uma abordagem psicobiológica (Part

No texto anterior foi demonstrado que existem fortes evidências que modelo psicobiológico parece ser mais completo quando comparado ao tradicional modelo de fadiga muscular, para explicar o porquê interrompemos ou reduzimos a intensidade um exercício de resistência (veja aqui e aqui). No entanto, cabe destacar que o modelo psicobiológico não se sobrepõe ao da fadiga muscular, muito pelo contrário, o complementa. A ligação entre ambos os modelos é a percepção de esforço (PE). Para entender melhor isso é preciso compreender quais os mecanismos neurofisiológicos que determinam a PE (1, 2). Existem basicamente duas teorias para explicar como formamos nossa PE. Uma delas, a teoria do feedback aferente (Figura 1), sustenta que informações aferentes provenientes de receptores periféricos localizados nos músculos esqueléticos, coração e sistema respiratório mandariam informações a áreas sensoriais do cérebro sobre o nível de estresse (mecânico e químico) desses tecidos. A outra, a teoria das descargas corolárias ou das cópias eferentes (Figura 2), propõe que informações da área motora suplementar e região pré-motora que saem para o córtex motor primário e geram o movimento, seriam irradiadas para áreas sensórias do cérebro. Posto isso, fica fácil entender a relação entre fadiga muscular e PE.


Figura 1. Esquema simplificado sobre a formação da percepção de esforço de acordo com a teoria do feedback aferente.

Figura 2. Esquema simplificado sobre a formação da percepção de esforço de acordo com a teoria das descargas corolárias.


O que acontece é que quando realizamos exercício intenso os sistemas cardiovascular e respiratório aumentam suas atividades atendendo a demanda aumentada de oxigênio pelos músculos esqueléticos em atividade. Associado a isso ocorre acúmulo metabólitos nos músculos esqueléticos que por sua vez interferem no processo de acoplamento excitação-contração, levando ao desenvolvimento da fadiga muscular (redução na capacidade contrátil máxima do músculo esquelético). Então, de acordo com a teoria do feedback aferente, informações provenientes dos receptores periféricos localizados nesses órgãos, sinalizariam para a formação da PE no córtex sensorial (1,2). Em contrapartida, a associação entre a fadiga muscular e a PE se daria de outra forma de acordo com a teoria das descargas corolárias. O acúmulo de metabólitos no músculo esquelético, além de diretamente interferir no processo de acoplamento excitação-contração, ativaria receptores sensíveis a alterações químicas e mecânicas que exacerbariam ainda mais a fadiga muscular, pois a ativação deles diminui a excitabilidade da medula espinal e do córtex motor, reduzindo o recrutamento muscular (3). Então, com desenvolvimento da fadiga a medida que o exercício de alta intensidade progride, passa ser necessário que a área motora suplementar e região pré-motora gerem mais comando ao córtex motor mantendo a potência muscular necessária para continuar a tarefa. Essa maior atividade da área motora suplementar e região pré-motora seria irradiada para o córtex sensorial fazendo, por sua vez, a PE aumentar. Portanto, quanto maior a fadiga muscular mais área motora suplementar e região pré-motora precisam trabalhar para ativar o córtex motor, e consequentemente, maior será a PE.


Apesar de ser uma variável muito medida na prática, a informação da PE é muitas vezes menosprezada pelo desconhecimento do embasamento neurofisiológico que ela carrega. Esse desconhecimento leva também a uma negligência na sua obtenção. Dado que conseguimos distinguir bem percepções de diversas naturezas (4) e os mecanismos neurológicos das mesmas são diferentes (5), temos que ser bastante rigorosos quando queremos medir especificamente a PE, o que será abordado no próximo post.

Referências bibliográficas





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