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Tolerância ao exercício físico e variação de ritmo nas provas de resistência: uma abordagem psicobio


Na última edição da corrida de São Silvestre, o etíope Leul Aleme percorreu os 15 km de prova em 44’53”. Ainda, recentemente uma grande empresa de material esportivo patrocinou a tentativa de 3 corredores percorrerem a distância da prova de Maratona abaixo de 2 horas. O queniano Eliud Kipchoge foi quem chegou mais perto de tamanho feito, completando a distância em 2h00’25”. Essas marcas representam, respectivamente, uma velocidade média de 20 e 21 km/h! Por que algumas pessoas conseguem sustentar velocidades tão altas por tanto tempo? Tradicionalmente características fisiológicas como o consumo máximo de oxigênio, os limiares metabólicos, a economia de corrida e as capacidades neuromusculares são consideradas as responsáveis em explicar a resistência fenomenal destes atletas. Como? Tais características poderiam ditar o aparecimento da fadiga muscular, definida como uma redução na capacidade contrátil máxima do músculo esquelético. Portanto, quando a potência capaz de ser produzida pelo músculo esquelético fosse reduzida, em virtude do aparecimento da fadiga muscular, a valores inferiores da potência necessária para executar o dado exercício físico, seria impossível sustentar a tarefa (Figura 1).


O modelo supracitado foi utilizado durante muito tempo para explicar a tolerância ao exercício físico e a variação de ritmo (pace) durante provas de resistência. No entanto, o pressuposto desse modelo foi testado experimentalmente apenas em 2010 pelos pesquisadores Samuele Marcora e Walter Staiano da Universidade Kent no Reino Unido. Para isso, em 10 homens treinados mediu-se a capacidade dos membros inferiores gerarem potência máxima antes, durante e depois de um exercício de carga constante até a exaustão em cicloergômetro. Os resultados revelaram que a potência muscular máxima diminuiu ao longo do exercício de carga constante. Demonstrando, portanto, a dinâmica de aparecimento da fadiga muscular ao longo da tarefa. Porém, imediatamente após o exercício de carga constante, realizado até a exaustão, a potência muscular máxima ainda foi ~3 vezes maior que a necessária para executar o dado exercício (Figura 2).

Então, o que fez os voluntários interromperem a tarefa? Os autores propõem que, baseados na teoria a intensidade motivacional da psicologia, interromper ou diminuir a intensidade de um exercício de resistência é uma tomada de decisão consciente, que depende de quão difícil o dado esforço está sendo percebido (percepção de esforço) e o quanto a pessoa deseja se esforçar para atender um determinado objetivo (motivação). De fato, os autores encontraram uma correlação alta (r = -0,83) entre a percepção de esforço no oitavo minuto do exercício de carga constante e o tempo até exaustão. Esse resultado indica que sustentava mais o exercício quem percebia estar fazendo menos esforço em um mesmo tempo de exercício (8º minuto). Os autores chamaram esse modelo de psicobiológico. Acompanhe nas próximas postagens como esse modelo foi experimentalmente testado, suas implicações no alto rendimento esportivo e quais os determinantes neurofisiológicos da percepção de esforço.

Referência

Marcora SM, Staiano W. The limit to exercise tolerance in humans: mind over muscle? Eur J Appl Physiol. 2010 Jul;109(4):763-70.


Allen DG, Lamb GD, Westerblad H. Skeletal muscle fatigue: cellular mechanisms. Physiol Rev. 2008 Jan;88(1):287-332.

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